quinta-feira, 7 de abril de 2011

ENSINO DE PORTUGUÊS PARA SURDOS

É importante destacar que a Língua de Sinais é natural, no sentido de que não há impedimento para a sua aquisição pelos surdos. Ser natural não significa ser inata, pois do mesmo modo que as demais línguas ela será aprendida, nas diferentes situações de intervenção entre seus usuários.
"A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e a língua portuguesa são as línguas que permeiam a educação de surdos e se situam politicamente enquanto direito. A aquisição dos conhecimentos em língua de sinais é uma das formas de garantir a aquisição da leitura e escrita da língua portuguesa pela criança surda. O ensino da Língua de sinais e o ensino de português, de forma consciente,é um modo de promover o processo educativo.” ( DUTRA)
QUAIS AS ESPECIFICIDADES ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS POR ESTUDANTES SURDOS?
Língua Portuguesa = Língua Estrangeira

ALGUMAS DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA DE TEXTO DE ALUNOS SURDOS:
Ortografia: geralmente, a escrita dos surdos apresenta boa incorporação das regras ortográficas, facilitada por sua excelente capacidade visual para memorização de palavras, exceto nas questões de acentuação e pontuação. O que poderá acontecer são trocas nas posições das letras, tais como:
Froi ( frio )
Frime ( firme )
Brasíl ( brasil )
Perto ( preto )

* Artigos: são omitidos ou utilizados inadequadamente, uma vez que os mesmos não existe em libras.
Exemplo: * Eu vi o televisão.
* A avião.
* A sofá.
* A caderno.

Elementos de ligação (preposição, conjunções, pronomes relativos, entre outros): é feito o uso inadequado e / ou há ausência, nas produções dos surdos, uma vez que são inexistentes em LIBRAS.

Exemplo:
Eu precisa # camisinha mulher precisa # camisinha # mochila.
Eu gosta não # homossexual, só gosto # mulher.


Gênero (masculino / feminino) e número (singular / plural): a ausência de desinência para o gênero e número em LIBRAS é um dos aspectos evidentes da interferência dessa língua na escrita.
Exemplo:
* Eu vi televisão muito pessoa tem Aids.
* A minha mãe faz uma bolo chocolate bom.
Verbos: Por apresentarem sem flexão de tempo, modo e pessoa na LIBRAS, causa interferência significativa na escrita, tendendo os surdos apresentarem os verbos em sua forma infinitiva na escrita.
Exemplo: * Nós pego muito Aids precisar exame de sangue.
* O Brasil ganhar uma bola.
* Eu sempre sair minha namorada na cinema.
* (...) eu quase sempre jantar fora eu peço o garçom preferir de mesa sem fumo.
Verbos de ligação: a omissão frequente dos verbos SER, ESTAR, FICAR, etc. , isto se deve à prevalência da estrutura gramatical da LIBRAS, na qual o uso do verbo de ligação é inexistente, fazendo com que ocorram em português.
Exemplo:
* Eu ver televisão um homem ensina Aids ajuda nosso pessoa aprender precisa camisinha muito cuidado Aids.
* Deus ver dói problema muitos são povos Aids.
Organização Sintática: os enunciados são geralmente curtos, com poucas orações subordinadas ou coordenadas. Isto se dá porque na LIBRAS, embora a organização sintática básica seja SVO (sujeito – verbo – objeto), podem ocorrer diferenças, tais como OSV e OVS.
Exemplo:* OSV: - Curitiba boa passear # vi. (Eu vi que é bom passear em Curitiba.)
- O menino # vi televisão camiseta do Brasil. ( Eu vi um menino com a camiseta do Brasil na televisão.)
* OVS: - O futebol joga Barsil. (O Brasil joga futebol)
- Bonito é Jardim Botânico. (O Jardim Botânico é bonito)
*SVO: - O André viu Jardim Botânico.
- Eu vi muito rio.

Negação: em algumas situações, ocorre após a forma verbal.
Exemplo:
* Nós amigos tem não Aids.
* Eu sabe namorado conversar precisa sangue médico conhece não Aids
Ao se deparar com um texto elaborado por uma pessoa surda, o professor deve manter uma atitude diferenciada que não parta das aparentes limitações iniciais apresentadas, mas das possibilidades que as especificidades dessa construção contempla; que não busque o desvio da normalidade, mas as marcas implícitas e explícitas da diferença linguística subjacente.
Atividades imprescindíveis para o ensino de português para o aluno surdo
As atividades de vivências sempre devem ser antecedidas pela leitura de textos em sinais.
A leitura precisa estar contextualizada:
* É importante que antes da leitura o professor provoque o interesse pelo tema da leitura por:
- uma discussão prévia do assunto;
- um estimulo visual;
- uma brincadeira;
- uma atividade que os conduza ao tema.
No caso de histórias, pode-se parar a leitura em um ponto interessante e continua-la somente em outro momento, deixando nos alunos a expectativa do que irá acontecer, permitindo que opinem sobre o desfecho da mesma comparando posteriormente com o final escolhido pelo autor.
Trabalhar com palavras – chaves do texto é muito útil. Isso não significa listar o vocabulário presente no texto, mas discutir com os alunos sobre as palavras que aparecem no texto, estimulando-os a buscar seu significado.
No contexto do aluno surdo, a leitura passa por diversos níveis:
Concreto – sinal: ler o sinal que refere coisas concretas, diretamente relacionadas com a criança.
Desenho – sinal: ter o sinal associado com o desenho que pode representar o objeto em si ou a forma da ação representada por meio do sinal.
Desenho – palavra escrita: ler a palavra representada por meio do desenho relacionado com o objeto em si ou a forma da ação representada por meio do desenho na palavra.
Alfabeto manual – sinal: estabelecer a relação entre o sinal e a palavra no português soletrada por meio do alfabeto manual.
5) Alfabeto manual – palavra escrita: associar a palavra escrita com o alfabeto manual.
6) Palavra escrita no texto: ler a palavra no texto.

Exemplo: CASA

“Na medida que o aluno compreende o texto, ele começa a produzir textos. Ele começa a escrever textos. A escritura é um processo que se constrói por meio do registro das atividades realizadas na própria sala de aula e de experiências vivenciadas pela própria criança.” (Müller,2006)

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